A família está de mudanças para Juiz de Fora. Os pertences que são poucos e simples estão em grandes sacolas.
Cristina, a caçula de seis irmãos, magrinha, pequena, cabelos curtos e enrolados, muito travessa, intitulada de café “margoso”, por ser respondona e irritar-se facilmente. Ela sai para brincar pela última vez com uma amiguinha, dona de uma boneca antiga que solta os braços, pernas e cabeça, não por luxo, mas por simplicidade.
Durante a brincadeira, quando a dona descuida do brinquedo, Cristina agarra a boneca e sai correndo. Chega em casa ofegante, desmonta braços, pernas, cabeça e tronco, os coloca dentro de um saco e enfia roupa por cima, a fim de que ninguém veja.
Fica quieta e angustiada em um canto, torcendo para irem embora logo.
A mãe chega perto da filha e diz que a amiguinha estava no portão a procurando em prantos.
Cristina responde a mãe com a voz tremula:
- Deixa pra lá. Já deve ser saudade.
A mãe tinha conhecimento do que se tratava:
- É melhor você devolver. Quer que eu faça?!
A menina sabia que seria pior se a mãe tivesse que obrigar a realizar a devolução da boneca roubada.
Cristina pega o brinquedo, o monta e dirige-se até lá fora.
Entregando para dona diz:
-Só peguei para não esquecer de você.
De Cristiane Gomes.
